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CONSIDERAÇÕES SOBRE SISTEMA PRODUTIVO DE OVINOS NO MUNICÍPIO DE CORUMBÁ

Por: Raquel Soares Juliano,

Marcelo Shigueo Pereira,

Sandra Aparecida Santos,

Márcia Furlan Nogueira Tavares de Lima,

Aiesca Oliveira Pellegrin,

Roberto Aguilar Machado Santos Silva

           

O Mato Grosso do Sul possui o oitavo maior rebanho ovino do Brasil, e o crescimento da ovinocultura no estado ocorre principalmente devido a aptidão natural das paisagens (áreas de savana e de campo) que já são tradicionalmente utilizadas para a criação de bovinos, promovendo e facilitando as atividades desse setor, além da aceitação de consumo da carne ovina. Dessa forma vem sendo realizada uma série de medidas técnicas e políticas com a finalidade de fortalecer a cadeia produtiva de ovinos no Mato Grosso do Sul. A região do Pantanal tem um número expressivo de animais, destacando-se Corumbá, o município com maior número de cabeças, pois os ovinos são criados na grande maioria das propriedades rurais.

            Com o entendimento de que o desenvolvimento sustentável dessa atividade no município necessita de maiores conhecimentos sobre as práticas de manejo da ovinocultura local, a Embrapa Pantanal realizou um trabalho com a finalidade de verificar o perfil das propriedades que criam ovinos em Corumbá. O estudo contou com a colaboração da Iagro para a realização das coletas de informações, a partir de fevereiro de 2009. O estudo será concluído em maio de 2011. Entretanto, algumas considerações iniciais merecem ser divulgadas, como estratégia para o direcionamento de atividades futuras e reflexão dos segmentos envolvidos.

            Foram respondidos questionários em 51 propriedades rurais do município, distribuídas nas áreas de assentamentos rurais, arredores da BR262 e estrada parque, além das sub-regiões da planície pantaneira (Nabileque, Abobral, Nhecolândia e Paiaguás). Dessas, apenas duas propriedades criam comercialmente animais, destinados ao abate em frigoríficos, fora do município. Os demais produtores praticam a criação de ovinos para subsistência, e apesar de não haver comercialização, utilizam os animais em atividades de escambo, caracterizando um fluxo de animais entre as propriedades. Não há registro de índices produtivos na maioria dos criatórios e isso dificulta a detecção de fatores que possam estar prejudicando ou colaborando para a sustentabilidade dessa atividade, mesmo como forma de subsistência e uso local.

            A maioria dos rebanhos está inserida em sistemas extensivos de produção, utilizando gramíneas nativas e plantas como aromita (Acacia farnesiana) e olho-de-boi (Diospyros hispida). A escassez de alimento é o principal problema apontado nas propriedades localizadas na parte alta e a maioria dos produtores não dispõe de recursos para formação de pastagem ou suplementação no período da seca. Em contrapartida, as propriedades localizadas na planície apresentam problemas de perdas de animais por predação.

            Os animais “mestiços” suportam as condições locais, pois são mais adaptados. Entretanto, é preocupante a expectativa que os pequenos agricultores depositam na introdução de raças melhoradas, que são divulgadas como solução para a organização da cadeia produtiva, vislumbrando o aumento da produtividade e lucratividade.

            O manejo sanitário dos animais atende aos cuidados básicos como vacinação anti-rábica e vermifugação. De maneira geral, os criadores desconhecem quais são as enfermidades que devem ser controladas com vacinas e a vermifugação é feita periodicamente, com maior frequência nas propriedades da parte alta do que na planície. Muitos produtores não têm informações sobre as questões relacionadas à resistência aos vermífugos, por isso não estão atentos ao uso correto dessas drogas.

            As doenças mais comumente visualizadas pelos produtores são as “bicheiras” (miíases), problemas de casco, tosse, a requeima (fotossensibilização), anemia, desnutrição e o “caroço” (linfadenite). Entretanto, a ocorrência de diarréias, carbúnculo, feridas na boca, sarna e conjuntivite ocorrem esporadicamente em algumas propriedades. Muitos produtores não têm conhecimento nem orientação de como devem proceder para prevenir, controlar ou tratar as enfermidades.

Esses primeiros resultados sugerem que apesar do grande número de animais criados no município, ainda há muito a se fazer para capacitar os produtores a conduzir a ovinocultura, como atividade comercial. A organização de arranjos produtivos locais, priorizando ações de formação dos produtores, orientando sobre manejo nutricional, manejo sanitário, administração do sistema produtivo e comercialização parecem fundamentais para estruturar essa atividade no município.


Raquel Soares Juliano (raquel@cpap.embrapa.br) é pesquisadora da Embrapa Pantanal; Marcelo Shigueo Pereira é médico-veterinário da Iagro-Corumbá; Sandra Aparecida Santos (sasantos@cpap.embrapa.br), Márcia Furlan Nogueira Tavares de Lima (furlan@cpap.embrapa.br), Aiesca Oliveira Pellegrin (aiesca@cpap.embrapa.br) e Roberto A. M. S. Silva (robertoaguilar001@gmail.com) são pesquisadores da Embrapa Pantanal.



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

JULIANO, R.S.; PEREIRA, M.S.; SANTOS, S.A.; LIMA, M.F.N.T. de; PELLEGRIN, A.O.; SILVA, R.A.M.S.  Considerações sobre sistema produtivo de ovinos no município de Corumbá. 2011. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2011_2/ovinos/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 09/05/2011