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Espécies de Trichoderma: fungos benéficos a serem favorecidos por práticas adequadas de manejo

 

Glaucia de Figueiredo Nachtigal

 

Micro-organismos são essenciais para a manutenção das funções do solo devido ao seu envolvimento em processos-chave como a formação da estrutura do solo, decomposição da matéria orgânica e ciclagem de nutrientes.

Espécies do fungo Trichoderma são decompositoras de madeira e material herbáceo e, com frequência, constituem o maior componente da microflora de vários ecossistemas (pastagem, áreas agrícolas, florestas, desertos). A dominância de Trichoderma nos solos de diferentes habitats pode ser atribuída à sua capacidade metabólica diversa e à natureza competitiva que proporcionam rápida colonização da rizosfera e estabelecimento de populações estáveis, controle da microflora patogênica e competitiva/deletéria e promoção do crescimento de plantas.

O arsenal antifúngico de Trichoderma a patógenos de plantas, notoriamente fungos de solo, é atribuída à competição por nutrientes ou espaço; inativação de enzimas produzidas pelos fitopatógenos e envolvidas na degradação da parede celular das plantas; síntese de enzimas, compostos tóxicos e/ou antibióticos que atuam sinergicamente para degradar as estruturas dos fungos parasitados e produção de metabólitos secundários com amplo espectro de atividade antimicrobiana.

Muitos isolados de Trichoderma spp. são relatados como ocasionais parasitas de invertebrados, graças à habilidade nata de produzir enzimas que degradam quitina (um dos maiores componentes da estrutura celular destes organismos) e interferem na sobrevivência e/ou no antagonismo aos mesmos. O potencial de Trichoderma spp., em biorremediação e supressão de plantas invasoras que afetam cultivos de interesse econômico, permanece, contudo, pouco explorado.

Em adição aos efeitos benéficos que ocorrem nas interações diretas com tais organismos, algumas espécies de Trichoderma são capazes de colonizar as superfícies de raízes e causar mudanças substanciais no metabolismo de plantas, de modo a promover o estímulo aos mecanismos de defesa das plantas, o aumento da disponibilidade de nutrientes e a tolerância ao estresse.

Tais atividades diversas de Trichoderma fazem deste fungo um componente benéfico do solo e, em virtude de sua importancia ecológica e de sua aplicação como agente de biocontrole no setor agrícola, o consenso é de que espécies de Trichoderma estão entre os fungos mais estudados e comercializados como biopesticidas, biofertilizantes e como inoculantes de solo, com um número crescente de novos produtos registrados regularmente em todo mundo.

Agentes de biocontrole são organismos cujas atividades dependem das condições dos diferentes ambientes fisicoquímicos aos quais estão submetidos. Por esta razão, os antagonistas pertencentes ao gênero Trichoderma exibem variabilidade entre linhagens com relação às atividades de biocontrole, espectro de ação contra os hospedeiros, propriedades fisiológicas e bioquímicas e adaptabilidade ecológica e ambiental.

As práticas de manejo utilizadas pelos agricultores impactam as populações de micro-organismos do solo, de modo que o emprego de práticas que favoreçam tais populações pode assumir um importante papel na manutenção da biodiversidade de populações autóctones de Trichoderma e se constituir em uma abordagem mais realista da utilização do controle biológico de pragas nos sistemas produtivos.

O favorecimento dos recursos genéticos autóctones de Trichoderma spp., de modo a contar continuamente com as espécies/linhagens adaptadas ao meio ambiente local a favor do agricultor, tem sido foco de atuação da Embrapa Clima Temperado na região da Metade Sul do Rio Grande do Sul. Tal ação impõe o entendimento da diversidade de espécies de Trichoderma potencialmente úteis para o biocontrole de pragas, em agroecossistemas com histórico diferenciado de cultivos e de utilização de práticas de manejo.  Em última análise, esta ação constituirá real oportunidade para promover o biocontrole de pragas por meio da estratégia por conservação, com claras vantagens aos agricultores e ao meio ambiente regionais.

 

 
Figura 1 – Estruturas reprodutivas (conídios e fiálides) do fungo Trichoderma sp. oriundo da Metade Sul do Rio Grande do Sul.
Foto: Daniel Lopes de Lima


Glaucia de Figueiredo Nachtigal possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal de Lavras (1985), mestrado em Agronomia (Fitopatologia) pela Universidade Federal de Viçosa (1990) e doutorado em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2000). Atualmente é pesquisador A da Embrapa Clima Temperado, onde desenvolve trabalhos de pesquisa relacionados ao controle biológico e métodos alternativos de controle de pragas, com foco nos sistemas produtivos de base ecológica da Região Sul do País. É responsável pela Biofábrica da Estação Experimental Cascata, unidade destinada ao desenvolvimento de pesquisas em insumos alternativos. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Fitopatologia, atuando principalmente nos seguintes temas: controle biológico de plantas espontâneas e controle alternativo de doenças de plantas.



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

NACHTIGAL, G.F. Espécies de Trichoderma: fungos benéficos a serem favorecidos por práticas adequadas de manejo. 2012. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2012_1/Trichoderma/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 02/01/2012