A siderurgia com biorredutor e a carboquímica vegetal: Um
modelo de biorrefinaria brasileira.
Biorrefinaria é uma instalação industrial ou conjunto de instalações
onde se produzem combustíveis, energia, materiais, insumos e
variadas moléculas orgânicas com base na biomassa. As usinas de
cana-de-açúcar e as indústrias de celulose e papel são exemplos de
biorrefinarias que já estão em operação. No Brasil, poderemos ter
biorrefinarias à base de carvão vegetal com o aproveitamento total
da carboquímica vegetal. Isso é possível e desejável. Da
carbonização ou pirólise de biomassa florestal resulta o carvão
vegetal com rendimentos mássicos da ordem de 25%. No Brasil são
produzidos anualmente cerca de 10 milhões de toneladas de carvão
vegetal para uso principalmente em siderurgia. Energeticamente isso
não é pouco, mas deve ser melhorado com a recuperação e uso de
grande parte dos 75% perdidos no processo. A solução dessa equação
requer tecnologia e investimento. Na verdade, o que se precisa são
investimentos para aplicar as tecnologias já desenvolvidas e assim
viabilizar todo o setor de carvão vegetal e de ferro-gusa e
aço-verde, uma das melhores formas de fixar carbono e de gerar
empregos e renda. A floresta
energética é grande captadora de CO2 e o uso da mesma
para produzir carvão vegetal é largamente praticado no Brasil. Cerca
de 11% do aço brasileiro (cerca de 4 milhões de toneladas em 2011,
segundo o Instituto Aço Brasil) é produzido com biorredutor, exemplo
singular no mundo movido a outro carvão; o carvão mineral,
energético importante, porém altamente poluidor, a mais poluidora de
todas as fontes de energia. Embora o Brasil historicamente use o
carvão mineral (carvão vapor) para gerar energia elétrica,
felizmente não é um combustível tão importante como em países
desenvolvidos. O coque de carvão mineral é usado como redutor para o
minério de ferro desde os anos de 1950 com a entrada em produção da
Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), antes, usava apenas o carvão
vegetal. Devido a questões técnicas não é possível substituir o
coque por biorredutor em altofornos de grande porte como os da CSN,
CST entre outras.
Recuperando-se adequadamente os voláteis dos processos de pirólise
da biomassa florestal obter-se-á o bio-óleo, também conhecido como
alcatrão vegetal, matéria-prima para sínteses orgânicas e fonte de
matérias-primas para a química fina. O país tem tecnologias
desenvolvidas para isso e já existem várias empresas usando o
bio-óleo para gerar energia. Outras aplicações como aditivos
alimentares, piche isento de enxofre entre outros produtos também
são comerciais. O biorredutor para minério de ferro é apenas uma das
aplicações possíveis para a biomassa siderúrgica brasileira (Fig.
1). A lenha e o
carvão vegetal sempre participaram da Matriz Energética Brasileira,
correspondendo, hoje, a cerca de 10% do consumo de energia primária,
o que não é insignificante. A cadeia produtiva do carvão vegetal
biorredutor precisa de atenção, investimentos e estímulo para
continuar produzindo o melhor aço. O caminho
para a sustentabilidade do carvão vegetal como biorredutor é a
criação de um fundo financiador da grande transformação tecnológica
demandada pelo setor com a produção de florestas capazes de
alimentar a indústria com carvão vegetal adequado e mitigar a
emissão de gases de efeito estufa. Um fundo de desenvolvimento que
capte recursos no mercado de carvão mineral siderúrgico importado e
reverta para o desenvolvimento de tecnologias limpas baseado na
siderurgia com o biorredutor. Os investimentos devem ser aplicados
no scale-up de
tecnologias inovadoras e em plantas demonstrativas em parceria com
os produtores de ferro-gusa independentes e as siderúrgicas
integradas. Esse fundo
deverá promover toda a cadeia produtiva desde a fase florestal,
passando pela indústria do biorredutor com carboquímica vegetal
anexa a siderurgia com cogeração e a criação de um mercado
certificado para o aço verde, verdadeiramente sustentável e
mitigador das emissões. A geração elétrica com gás de aciaria a
carvão vegetal já é uma realidade em várias unidades, além da
geração com alcatrão vegetal. Essas ações levadas de forma conjunta
deverão também promover a criação de conglomerados produtores,
associados e cooperativados com densidade de capital, tecnologia e
mercado. Tais medidas significam quebra de paradigma e mudanças em
uma cadeia produtiva milenar que é esquecida e negligenciada em
pleno século XXI. O desenvolvimento da carboquímica vegetal com
investimentos fortes e duradouros ao longo do tempo dará ao país um
modelo inovador de
biorrefinaria genuinamente brasileira.
José
Dilcio Rocha Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte Dados para citação bibliográfica(ABNT): ROCHA. D. J.; A siderurgia com biorredutor e a carboquímica vegetal: Um modelo de biorrefinaria brasileira. 2013. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2013_2/siderurgia/index.htm>. Acesso em: Publicado no Infobibos em 22/08/2013 |