(Cedro) Cedrella fissilis

Texto produzido pela Acadêmica Aline Angeli
Supervisão e orientação do Prof. Luiz Ernesto George Barrichelo e do Eng. Paulo Henrique Müller
Atualizado em 21/11/2005

1. Introdução

O cedro é uma espécie rara, que ocorre em diversas formações florestais brasileiras e praticamente em toda América tropical. Essa árvore frondosa produz uma das madeiras mais apreciadas no comércio, tanto brasileiro quanto internacional, por ter coloração semelhante ao mogno e, entre as madeiras leves, é uma das que possibilita o uso mais diversificado, sendo superada apenas pela madeira do pinheiro-do-paraná (Carvalho, 1994)

2. Taxonomia

Segundo o Sistema de classificação de Cronquist:

Família: Meliaceae
Espécie: Cedrella fissilis Vellozo
Sinonímia botânica: Cedrella brasiliensis Adr. Jussieu; C. brunellioides Rusby; C. huberi Ducke; C. macrocarpa Ducke; C. regnelli C. de Candolle; C. tubiflora Bertoni
Nomes vulgares: acaiacá, acaiacatinga, acajá-catinga, acajatinga, acaju, acaju-caatinga, capiúva, cedrinho, cedro-amarelo, cedro-batata, cedro-branco, cedro-fofo, cedro-rosado, cedro-de-carangola, cedro-do-rio, cedro-cetim, cedro-diamantina, cedro-rosa, cedro-roxo, cedro-verdadeiro, cedro-vermelho, cedro-da-bahia, cedro-da-várzea, cedro-do-campao, iacaiacá.

3. Aspectos ecológicos

O cedro é uma espécie que se comporta como secundária inicial ou secundária tardia. Ocorre tanto na floresta primária, principalmente nas bordas da mata ou clareiras, como na floresta secundária, porém nunca em formações puras, possivelmente pelos ataques severos da broca-do-cedro e pela necessidade de luz para desenvolver-se, dependendo, portanto, da formação de clareiras. As principais regiões fitoecológicas de ocorrência são Floresta Ombrófila Densa (Floresta Atlântica e Floresta Amazônica), Floresta Ombrófila Mista (Floresta com Araucária), Floresta Estacional Semidecidual e Floresta Estacional Decidual. Entretanto, também ocorre, de modo mais restrito, nos encraves de vegetação no Nordeste brasileiro (Ferreira & Batista, 1990), nos campos da Serra da Mantiqueira (Carvalho, 1994), no Cerradão (Nave et al., 1997) e nas matas de galerias - em ambientes mais secos – nessas fitofisionomias do bioma Cerrado.

4. Descrição

O cedro é uma árvore caducifólia, com altura variando entre 10 e 25m e DAP (diâmetro à altura do peito), entre 40 e 80cm. Apresenta tronco reto ou pouco tortuoso, com fuste de até 15m. A copa é alta e em forma de corimbo, o que a torna muito típica.

As folhas são compostas, medindo entre 25 a 45 cm, muito variáveis quanto à forma, com 8 a 30 pares de folíolos oblongo-lanceolados a oval-lanceolados (Lorenzi, 1992). A alta densidade estomática nas folhas, muito maior que em outros gêneros das Meliaceae, é também uma característica muito peculiar do cedro (Piratininga-Azevedo,1999).

As flores são brancas, com tons levemente esverdeados e ápice rosado; também são pequenas, agrupadas em tirsos axilares de 30 cm, na média, sendo que as masculinas são mais alongadas que as femininas.

Os frutos são cápsulas em forma de pêra, deiscentes, sendo que parte dos carpelos permanecem no eixo do fruto após a deiscência. Os frutos apresentam cinco valvas longitudinais (que se abrem por ocasião da deiscência), lenhosas, ásperas, de coloração marrom, com lenticelas claras e alojam de 30 a 100 sementes viáveis.

As sementes são aladas, de coloração bege a castanho-avermelhada e apresentam dimensões de até 35mm de comprimento por 15mm de largura .

5. Informações botânicas

O cedro é uma planta hermafrodita, porém a fecundação é cruzada e o mecanismo que favorece a alogamia é o amadurecimento das flores femininas e masculinas em períodos distintos. A polinização é feita possivelmente por mariposas (Morellato, 1991) e abelhas (Steinbach & Longo, 1992).

Os frutos, bem como as sementes, são dispersos, sobretudo, pela ação da gravidade e do vento, respectivamente.

A floração e a frutificação, que se iniciam entre dez e quinze anos após o plantio, ocorrem em períodos distintos nos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná , Goiás, Minas Gerais, Bahia, Pará, Espírito Santo e Santa Catarina. De agosto a setembro ocorre floração em Goiás; de agosto a dezembro, em Minas Gerais; de setembro a novembro, no Rio Grande do Sul; de setembro a dezembro, em Santa Catarina; de setembro a janeiro, em São Paulo e no Paraná; de outubro a fevereiro, na Bahia; em janeiro, no Pará e de janeiro a março, no Espírito Santo. A frutificação ocorre de abril a agosto, no Rio Grande do Sul; de maio a julho, em Minas Gerais; de junho a julho, no Espírito Santo; de junho a setembro, em São Paulo; de julho a agosto no Paraná e Santa Catarina; de agosto a setembro, no Rio de janeiro e de novembro a fevereiro em Goiás (Carvalho, 1994).

6. Ocorrência natural

O cedro possui distribuição ampla no território brasileiro, compreendendo latitudes de 1° S (Pará) a 33° S (Rio Grande do Sul). Ocorre em altitudes de 5 a 1.800 metros.

7. Clima

O cedro é adaptado aos tipos climáticos, segundo a classificação de Köppen, temperado úmido, subtropical úmido, subtropical de altitude e tropical.

O regime de precipitações é bastante variável, com chuvas de inverno uniformemente distribuídas na Região Sul e nas proximidades de Belém, e chuvas de verão periódicas nas demais regiões a partir do norte do Paraná. A precipitação anual média é de 750mm (Morro do Chapéu, BA) a 3.700mm (Serra de Paranapiacaba, SP). A deficiência hídrica é nula e sem estação seca na região Sul, moderada com estação seca de até três meses nas Regiões Centro- Oeste e Sudeste, e forte com até seis meses de seca no norte de Minas Gerais.

A temperatura média anual nas regiões de ocorrência desta espécie varia de 13°C (São Joaquim – SC) a 26°C (Monte Alegre – PA). Suporta geadas, em média de 0 a 30 por ano.

8. Solo

Normalmente, o cedro ocorre em solos profundos e úmidos, de textura argilosa a areno-argilosa, e bem drenados. Não se desenvolve adequadamente em solos mal drenados, rasos ou com lençol freático superficial.

O cedro também apresenta crescimento pouco afetado em solos contaminados por metais pesados (Marques at al., 2000).

9. Sementes

Geralmente, colhem-se os frutos duas ou três semanas antes da deiscência natural, pois as sementes são aladas e dispersas pelo vento. O período ideal para colheita é verificado pela coloração do fruto, que passa de verde para marrom-clara, que indica a maturidade fisiológica da semente; esse período ocorre entre 30 e 32 semanas após a antese. Após a colheita, os frutos são levados para local seco e ventilado para completar a deiscência e a liberação das sementes é feita agitando-se os frutos (Corvello et al., 1997; Durigan et al., 2002).

As sementes de cedro não apresentam dormência e podem ser armazenadas a frio, conservando-se o poder germinativo por dois anos. Cada quilograma contém cerca de 21.000 a 24.000 sementes (Durigan et al., 2002).

10. Produção de mudas

A produção de mudas pode ser feita em sementeiras, para posterior repicagem, ou diretamente em recipientes (tubetes de 200 cm3 ou sacos de polietileno) contendo substrato rico em matéria orgânica, semeando-se duas sementes por recipiente (Lorenzi, 1992; Carvalho, 1994). Também se pode produzir mudas pelo método de raiz nua (Durigan et al., 2002) ou por propagação vegetativa; em ambos os casos, as respostas são satisfatórias (Rodrigues, 1990).

O poder germinativo das sementes geralmente ultrapassa 80% e a germinação ocorre entre doze e dezoito dias após a semeadura.

11. Aspectos silviculturais

Cedrela fissilis é uma espécie florestal heliófila na fase adulta, medianamente tolerante a tolerante às baixas temperaturas, sendo que árvores adultas em florestas naturais toleram até – 10,4C (Carvalho, 1994).

O hábito dessa espécie é muito variável devido ao ataque da broca-do-cedro, mas, quando não atacado, apresenta ramificação leve e fuste reto. Como a desrama natural é ineficiente, necessita de podas de galhos e de condução freqüentes e periódicas e, quando se tratar de indivíduos atacados pela broca-do-cedro, deve-se proceder com podas corretivas anuais durante os três primeiros anos (Carvalho, 1994).

O plantio puro a pleno sol, como exposto anteriormente, é impraticável devido os ataques da broca-do-cedro. A isso soma-se que as maiores produtividades são verificadas em condições mais sombreadas. Assim, são mais vantajosos os plantios mistos, porém evitando-se ultrapassar a densidade de 100 indivíduos por hectare.

Em cultivos consorciados, o plantio pode ser feito em linhas e, em vegetação matricial arbórea, o plantio pode ser feito em faixas abertas nas capoeiras.

12. Crescimento e produção

O cedro é uma espécie de crescimento relativamente rápido, podendo se comportar como espécie secundária inicial ou tardia e regenerando-se preferencialmente, em clareiras ou bordas de mata, conforme anteriormente destacado.

Os plantios puros de cedro, entretanto, são praticamente inviáveis devido ao ataque da broca-do-cedro, que torna o crescimento da espécie extremamente variável e, na maioria das vezes, o incremento médio anual é tão baixo (inferior a 4 m³/ha/ano) que inviabiliza o plantio comercial (Durigan et al., 2002; Carvalho, 1994).

13. Pragas e doenças

A broca-do-cedro (Hypsipyla grandella Zeller) é a praga mais importante para essa espécie, constituindo fator limitante para seu cultivo, pois ainda não foi encontrada uma solução eficaz para o controle da praga. Os ataques ocorrem em viveiros, plantios ou regeneração natural, danificando as gemas apicais, levando ao desenvolvimento arbustiforme ou mesmo matando a planta. De modo geral, os sucessivos ataques aos ponteiros paralisam o desenvolvimento do cedro.

O controle da broca-do-cedro é muito difícil, mas pode-se tentar a combinação dos seguintes métodos: físico (armadilha luminosa no início da estação chuvosa), cultural (eliminação das mudas atacadas no viveiro, poda dos ramos atacados no campo e evitar plantios puros a pleno sol) e biológico (utilizar parasitóides de ovos e lagartas, Trichogramma sp e Hypomicrogaster hypsipylae, respectivamente). Também podem ser utilizados alguns produtos à base de Metarhizium anisopliae, Beauveria bassiana e Bacillus thuringiensis, desde que aplicados antes que as lagartas penetrem nos ramos (Gallo et al., 2002).

São citadas na literatura outras pragas menos importantes, tais como ácaros, o coleóptero Oncideres dejeani, o lepidóptero Antaeotricha dissimilis, a coleobroca Diploschema rotundicolle, o homóptero Freysuila sp e besouros da Família Scolytidae.

14. A madeira

A madeira do cedro possui massa específica aparente entre 0,47 e 0,61g/cm³, a 15% de umidade; a densidade básica é de 0,44 g/cm³. Trata-se, portanto, de uma madeira leve a moderadamente densa (Jankowsky et al., 1990).

O alburno apresenta coloração branca a rosada e o cerne varia entre bege-rosado a castanho-avermelhado. A superfície da madeira é lustrosa e com reflexos dourados, a textura é grosseira e a grã é direita ou pouco ondulada.

A resistência natural dessa madeira é moderada quanto ao ataque de organismos xilófagos, porém é resistente aos agentes exteriores, desde que não seja enterrada ou submersa. É de baixa permeabilidade aos tratamentos preservantes, em autoclave.

Trata-se de uma madeira de secagem fácil, tanto em estufa, quanto ao ar livre, com baixa ocorrência de defeitos.

15. Usos e preço da madeira

A madeira serrada ou roliça pode ser usada para construção civil, naval e aeronáutica, movelaria, marcenaria, confecção de instrumentos musicais e esculturas, entre outros (Lorenzi, 1992).

Como lenha, a madeira de cedro é considerada de boa qualidade, porém seu alto valor no mercado torna esse uso inadequado.

A madeira de cedro laminada e serrada, no mercado atacadista de São Paulo, está sendo cotada a R$ 6,81/m² e R$ 2.138,06/m³, respectivamente (Florestar Estatístico, 2005).

16. Produtos não-madeireiros

Da madeira do cedro extrai-se óleo essencial com perfume semelhante ao cedro-do-líbano. Verifica-se também a presença de substâncias tanantes na casca e no lenho.

O chá das cascas do cedro é utilizado, na medicina popular, como tônico fortificante, adstringente, febrífugo, no combate às disenterias e artrite (Franco, 1997).

17. Outros usos

O cedro fornece forragem(Carvalho, 1994), pode ser utilizado para produção de mel e, por ser uma espécie ornamental, também pode ser empregada em projetos paisagísticos e arborização urbana (Lorenzi, 1992).

Cedrela fissilis é também uma espécie importante para recuperação florestal de áreas degradadas e de matas ciliares, onde não ocorrem inundações (Durigan, 2002). Esta essência também é promissora para a recuperação de solos contaminados por metais pesados (Marques et al., 2000).

18. Referências bibliográficas

CORVELLO, W.B.V.; VILLELA, F.A.; NEDEL, J.L. Maturação fisiológica e qualidade de sementes de cedro (Cedrela fissilis Vell.) - Meliaceae. Informativo ABRATES, Brasília, v.7, n.1/2, p.214, 1997a.

DURIGAN, G.; FIGLIOLIA, M.B.; KAWABATA, M.; GARRIDO, M.A. de O.; BAITELLO, J.B. Sementes e mudas de árvores tropicais. São Paulo: Páginas & Letras, 2ª Ed. 2002.

FERREIRA, R.L.C.; BATISTA, A.C. Análise estrutural da mata da Reserva Biológica de Pedra Talhada-AL. In: CONGRESSO FLORESTAL BRASILEIRO, 6., 1990, Campos do Jordão. Anais. São Paulo: Sociedade Brasileira de Silvicultura, 1990. v.3, p.568-574. Publicado na Silvicultura, n.42, 1990.

Revista Florestar Estatístico, disponível em http://www.fflorestal.sp.gov.br/publicacao/01_apresentacao
_capas_resenhas/publicacoes_resenhas.htm
, acessado em novembro de 2005.

FRANCO, I.J.; FONTANA, V.L. Ervas & plantas: a medicina dos simples. Erechim: Imprimax, 1997. 177p.

GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; CARVALHO, R.P.L.; BATISTA, G.C. de.; BERTI FILHO, E.; PARRA, J.R.P.; ZUCCHI, R.A.; ALVES, S.B. Manual de entomologia agrícola. Piracicaba: FEALQ,2002, 920 p.: il (Biblioteca de Ciências Agrárias Luiz de Queiroz, 10).

JANKOWSKY, I.P.; CHIMELO, J.P.; CAVANCANTE, A. de A.; GALINA, I.C.M.; NAGAMURA, J.C.S. Madeiras brasileiras. Caxias do Sul: Spectrum, 1990. 172p.

LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Plantarum, 1992. 352p.

MARQUES, T.C.L.L.S.; SIQUEIRA, J.O.; MOREIRA, F.M.S. Crescimento de mudas de espécies arbóreas em solo contaminado com metais pesados. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS, 3., 1997, Ouro Preto.

MORELLATO, L.P.C. Estudo da fenologia de árvores, arbustos e lianas de uma floresta semi-decídua no sudeste do Brasil. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 1991. 176p. Tese Doutorado.

NAVE, A.G.; RODRIGUES, R.R.; GANDOLFI, S. Planejamento e recuperação ambiental da Fazenda São Pedro da Mata Município de Riolândia – SP. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS, 3., 1997, Ouro Preto.

PIRATININGA-AZEVEDO, A. Meliaceae Juss. do Parque Nacional do Itatiaia, Rio de Janeiro. In: CONGRESSO NACIONAL DE BOTÂNICA, 50., 1999, Blumenau. Programa e resumos. Blumenau: Sociedade Botânica do Brasil / Universidade Regional de Blumenau, 1999. p.62.

RODRIGUES, V.A. Propagação vegetativa de aroeira Schinus terebinthifolius Raddi, canela-sassafrás Ocotea pretiosa Bent & Hook e cedro Cedrela fissilis Vellozo, através de estacas radiciais e caulinares. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 1990. 90p. Tese Mestrado.

STEINBACH, F.; LONGO, A.N. Lista preliminar das espécies da flora apícola nativa da Fazenda Faxinal. In: CONGRESSO NACIONAL SOBRE ESSÊNCIAS NATIVAS, 2., 1992, São Paulo. Anais. São Paulo: Instituto Florestal, 1992. p.347-349. Publicado na Revista do Instituto Florestal, v.4, parte 1, edição especial, 1992.


Fonte: Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (www.ipef.br)
 


Veja Também...