Conceitos Gerais de Compactação do Solo
 

por Otávio Antonio de Camargo e Luis Reynaldo F. Alleoni

O bom crescimento e desenvolvimento das plantas, os quais as levam a produzir grãos, fibras e outros produtos comerciáveis, dependem da harmonia de uma série de fatores ambientes. A absorção de nutrientes é um dos fatores importantes para que se tenham boas produções, e pode-se dizer que qualquer obstáculo que restrinja o crescimento radicular reduz tal absorção.

O século passado e, especialmente, os últimos sessenta anos foram dedicados à expansão técnica e melhoria tecnológica dos processos de produção agrícola, principalmente com relação a fertilizantes, mecanização e escolha dos sistemas de produção. A partir da década dos setentas, efeitos secundários no ambiente- como poluição industrial e degradação dos solos usados para agricultura, cuja compactação é um item fundamental - passaram a ser discutidos e estudados com maior ênfase. Algumas vezes, esses efeitos maléficos apenas podem ser removidos a altos custos, que não podem ser cobertos unicamente com a receita obtida da exploração agrícola.

Existem diversos fatores que ocasionam um crescimento deficiente do sistema radicular de plantas cultivadas, podendo ser citados: danos causados por insetos e moléstias, deficiências nutricionais, acidez do solo, drenagem insuficiente, baixa taxa de oxigênio, temperatura imprópria do solo, compactação do solo e dilaceramento radicular (Figura abaixo). Dentre essas limitações, a compactação do solo toma, muitas vezes, dimensões sérias, pois ao causar restrição ao crescimento e desenvolvimento radiculares, acarreta uma série de problemas que afetam direta e indiretamente a produção das plantas.

Limitações passíveis de ocasionar crescimento deficiente do sistema radicular

Muita atenção deve ser dada ao assunto, pois a compactação do solo agrícola é um conceito complexo e de difícil descrição e mensuração. Além do mais, está intimamente relacionada a atributos físicos, químicos e biológicos que, reconhecidamente, são importantes ao desenvolvimento das plantas e cujos efeitos sinérgicos podem agravar significativamente o problema.

Com o despertar de uma agricultura intensiva, na qual o número de máquinas que trafegam em uma área é grande, e o cultivo é feito muito mais à base de um planejamento temporal do que visando à conservação dos recursos edáficos, o problema da compactação vem aparecendo sistematicamente em extensas regiões do país, mostrando seus efeitos comprometedores à boa produtividade agrícola.

A compactação do solo determina, de certa maneira, as relações entre ar, água e temperatura, e estas influenciam a germinação, a brotação e a emergência das plantas, o crescimento radicular e, praticamente, todas as fases de seu desenvolvimento. A figura seguinte ilustra o complexo sistema que regula as relações entre a compactação do solo e o crescimento das plantas.

Esquema simplificado das relações funcionais entre compactação do solo e crescimento de plantas (Boone, 1986)

Nessa figura, observa-se que o tráfego de máquinas e implementos, principalmente quando efetuado em determinadas condições de umidade, provoca alterações no arranjamento das partículas do solo, diminuindo, geralmente, o volume ocupado por determinada massa de terra e o tamanho dos poros do solo que permitem livre circulação de ar e água, os chamados macroporos. Por conseguinte, outros atributos físicos do solo como aeração, temperatura e resistência mecânica à penetração são modificados, afetando também atributos químicos (disponibilidade dos nutrientes para as plantas), biológicos (condições do solo para desenvolvimento de microrganismos) e a região ocupada pelas raízes, a rizosfera. No final do processo, encontra-se a planta, que será, em suma, o retrato do sistema de manejo adotado.

Na figura seguinte, pode-se ver que a compactação é um dos principais fatores de limitação ao crescimento radicular de plantas cultivadas em solos que variam de franco-arenosos a franco-argilosos e com argila de baixa atividade (capacidade de troca de cátions menor do que 240 mmolc.dm-3 de argila, descontada a participação da matéria orgânica). Nesta ampla faixa, encontra- se a maioria dos solos tropicais altamente intemperizados, enquadrando-se grande parte dos brasileiros. Solos com predominância de argila montmorilonítica aparecem em regiões de baixa temperatura e/ou baixa precipitação pluvial, enquanto a alofana, derivada de cinzas vulcânicas, é pouco comum em nossas condições. Nos solos de textura argilosa, o cultivo mecanizado convencional poderia ser adotado sem problemas, desde que a movimentação de água ao longo do perfil (infiltração, percolação e drenagem) fosse livre. Já nas áreas onde aparece a compactação, algum sistema de cultivo reduzido deve ser preconizado, de maneira a reduzir o tráfego de máquinas e possibilitar uma adequada conservação do solo.

Relações entre diversos sistemas de cultivo nos trópicos e tipo de argila, a textura dos solos e as limitações mais comumente encontradas (adaptada de Lal, 1985)

Para que se possa tomar medidas visando a prevenir ou elucidar a compactação do solo e seu combate eficaz, faz-se necessário um entendimento razoável da natureza do problema. Assim, descrever e discutir uma série de fenômenos e mecanismos que ocorrem no sistema solo-planta, quando a compactação está presente, é o propósito de uma série de artigos que estaremos disponibilizado.

No próximo estaremos falando sobre o solo e a planta. Aguardem!!!

Bibliografia Citada

BOONE, F.R. Towards soil compaction limits for crops grows. Neth. J. Agric. Sci., Wageningen, 34:349-360, 1986.

LAL, R. A soil suitability guide for different tillage systems in the tropics. Soil Till. Res., Amsterdan, 5:179-196, 1985.
 

Otávio Antonio de Camargo, formado em engenharia agronômica (1967) e mestre em Agricultura (1972) pela Esalq-USP e PhD pela Universidade da California (1978).
É pesquisador do IAC desde 1969 (atualmente nível VI), professor colaborador da Esalq-USP desde 1990 e bolsista de produtividade do CNPq desde 1970. Já foi do Comitê externo de avaliação de diversos Centros e de programas da Embrapa e do CNPq. Tem diversos livros, capítulos de livros e boletins editados e é autor de aproximadamente uma centena de artigos científicos em revistas nacionais e internacionais. É editor associado da Revista Brasileira de Ciência do Solo desde 1979, revisor de diversas revistas nacionais e internacionais e assessor científico da FAPESP e do CNPq, entre outras agências financeiras, desde 1980.
Contato:Otávio Camargo


Luís Reynaldo Ferracciú Alleoni, formado em engenharia agronômica, (1985), mestre (1992) e doutor (1996) em Agronomia, Área de Concentração: Solos e Nutrição de Plantas, e Livre-Docente em Química do Solo (2000), todos pela ESALQ/USP, além de Pós-Doutorado na Universidade da Florida (2005-2006). Trabalhou como pesquisador científico no Centro de Tecnologia da  Copersucar e no Instituto Agronômico de Campinas, e como docente na Fundação Faculdade de Agronomia Luiz Meneghel (Bandeirantes- PR) e na Universidade de Marília. É professor da Departamento de Solos e Nutrição de Plantas da ESALQ/USP desde 1997 e bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq desde 1998. É Editor-Chefe da revista Scientia Agricola e é autor de aproximadamente 50 artigos  científicos em revistas nacionais e internacionais. É assessor científico da FAPESP e do CNPq, entre outras agências financeiras, desde 1999.

 

Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

CAMARGO de, O. A.; Alleoni, L.R.F. Conceitos Gerais de Compactação do solo. 2006. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/CompSolo/Comp1.htm>. Acesso em:


Publicado no InfoBibos em 28/03/2006
Atualizado em 10/05/2006