História da fruticultura de clima
temperado no Brasil, com ênfase no melhoramento genético As frutíferas de clima temperado são originárias de países que possuem inverno bem frio, onde são cultivadas há centenas de anos. No Brasil elas são consideradas exóticas, pois foram introduzidas de várias regiões mundiais. É do conhecimento comum que nos primeiros registros de Pero Vaz de Caminha, em maio de 1500, não se faz menção às plantas hortícolas. Há indícios, no entanto, que as primeiras mudas ou sementes de frutíferas de clima temperado tenham sido trazidas pouco mais tarde, durante a expedição colonizadora de Martin Afonso de Souza, entre 1531 e 1532. Além das frutíferas, também, foram trazidas as hortaliças, o trigo e a cana-de-açúcar. Essas introduções européias foram plantadas ou semeadas em São Vicente (SP) e, posteriormente, em terras do Planalto Atlântico de vários estados brasileiros, devido às melhores condições de clima e solo.
Com certeza, entre os séculos XVI e XVIII, deve haver muitas informações e curiosidades relativas às frutas de clima temperado no Brasil, como aquelas mencionadas por Martins et al. (2010). Entre as histórias, levantadas e descritas por estes autores, a principal delas talvez seja a de que Braz Cubas poderia ser considerado o primeiro viticultor brasileiro. Esse explorador português cultivou videiras por volta de 1551 no Planalto de Piratininga (hoje Grande São Paulo), onde fabricou os primeiros vinhos nacionais. A partir de meados do século XIX se pode encontrar textos que descrevem o cultivo de frutas de clima temperado na forma de pomares, bem como o uso maquinários apropriados para processamento de frutos. No Estado de São Paulo, importantes introduções de videiras norte-americanas, mais resistentes às doenças e de melhor adaptação aos climas locais, ocorreram entre 1830 e 1840 e que se expandiram para várias regiões brasileiras, ocupando lugar de destaque na economia da época. Ainda com videira, destaca-se a introdução de propágulos da uva Niagara em 1894, por Benedito Marengo, o que possibilitou seu cultivo comercial com sucesso a partir de 1910 (Santos Neto, 1969).
No Rio Grande do Sul, há relatos que o naturalista francês Auguste Saint-Hilaire, durante sua visita à Pelotas, em setembro de 1820, faz menção ao cultivo de pessegueiro e outras frutíferas. Quando se criou a Colônia Francesa, em 1880, o Diário Liberal da época relatou a existência de mais de 100 mil pés de pessegueiros e que seus frutos eram destinados à fabricação de compotas (Bach, 2009). Ainda em Pelotas (RS), o imigrante Amadeo Gustavo Gastal introduziu, da França, a primeira indústria de conservas de frutas e legumes, sendo que em 1878, o mesmo chegou a produzir as primeiras compotas experimentais de pêssegos. Segundo Grando (1990), citado por Nakasu; Raseira (2002), a primeira fábrica comercial de conservas de pêssego em calda, na região, foi a Quinta Pastorello, datada de 1900. Outro nome importante, que faz parte da história do pêssego nesse estado é Ambrósio Perret. Esse imigrante francês introduziu e testou diversas cultivares oriundas da Europa, Estados Unidos, Japão e Austrália. Seu viveiro, de mesmo nome e muito conhecido na época, já comercializava sementes e mudas em 1938 (EMBRAPA, 2010). Em Santa Catarina, há informações de que a macieira era plantada em jardins desde os primeiros anos do século XX. Santos (1994) relata que ‘Bismark’ pode ter sido a primeira maçã a ser cultivada na região, perto de Indaial e Brusque. Em documentos do Ministério de Agricultura, citado por Petri et al. (2011), se encontram relatos que no município de São Joaquim havia, em 1913, macieiras, pessegueiros, ameixeiras, marmeleiros e figueira produzindo boas frutas.
No Estado de São Paulo, em 1889, dois anos após a instalação da Estação Imperial Agronômica (Figura 1), hoje Instituto Agronômico (IAC), Franz Wilhelm Dafert iniciava seus relatos sobre o comportamento das introduções européias de várias coleções de frutíferas de clima temperado.
São dessa época, também, os relatos de A. Noack, A. Kempel, H. Potel e J. Herrmann sobre os primeiros estudos das introduções das frutíferas temperadas, suas pragas e seu controle, citados por Ojima et al. (1993) e por Pommer (1993). Outro fato histórico, merecedor de destaque, diz respeito à primeira exportação de produto frutícola brasileiro na época da proclamação da república. A marmelada, muito produzida nos arredores da capital paulista, Minas Gerais e Rio de Janeiro, se tornou importante fonte de renda nos tempos do império (Rigitano, 1957). Logo depois que Dafert, fundador do IAC, deixou o Brasil, o fitopatologista russo G. Bondar veio trabalhar na instituição, onde publicou após dois anos de estudos, em 1913, o boletim: “Pragas da figueira cultivada”. Nessa época, o pomólogo alemão João Hermann ficou incumbido de chefiar a Fazenda Santa Elisa (Figura 2), hoje Centro Experimental Central, do IAC, em Campinas (SP), onde introduziu elevado número de acessos de frutíferas de clima temperado, notadamente uva, pêssego, ameixa, maçã, pêra e marmelo. Em 1925, esse mesmo pesquisador implantou a Estação Experimental de São Roque (SP), onde reuniu mais de 400 acessos de fruteiras. Além daquelas espécies já plantadas em Campinas, Hermann organizou o plantio de coleções de castanhas, cerejas, citrus, figos, framboesas, morangos e nozes (Ojima et al., 1993).
Ressalte-se que, as frutíferas de clima
temperado começaram a ganharam lugar de destaque na agricultura
brasileira, graças aos resultados experimentais de pesquisas
consolidadas após os anos de 1930 (Seção de Viticultura e Frutas de
Clima Temperado, 1950), no IAC. As primeiras experimentações,
realizadas em vários municípios paulistas, resultaram em trabalhos
científicos e em boletins técnicos (ABC do Lavrador Prático), com
instruções para as culturas da videira, do pessegueiro, da figueira,
do marmeleiro, da macieira, do caquizeiro, da nogueira-pecã e
outras. Ainda com
bases experimentais, outras pesquisas pioneiras foram efetivadas na
região sul entre as décadas de 1930 e 1950, principalmente no Rio
Grande do Sul. Resultados importantes, também, promoveram o cultivo
em larga escala do pessegueiro, macieira, videira e pereira.
Várias ações políticas importantes ocorreram
entre 1950 e Se hoje a fruticultura temperada é um setor dos mais importantes do agronegócio, muito se deve a esses e a outros ilustres pesquisadores, professores e técnicos extensionistas, merecedores de todo respeito e admiração dos brasileiros. Seus trabalhos de pesquisa, ensino, desenvolvimento de tecnologia e extensão rural foram essenciais para a gestão, divulgação e adaptação das frutíferas ao nosso clima pouco frio. Como se sabe, a exigência de frio é bem variável entre as espécies frutíferas e cultivares, daí a razão principal do trabalho meticuloso de adaptação climática realizado há décadas no Brasil. As frutíferas de caroço, por exemplo, cultivadas nas regiões tradicionais mundiais tem, em geral, uma exigência em frio equivalente a um total acumulado no inverno de cerca de 800 horas de temperatura abaixo de 7,2oC. Já as macieiras e pereiras, cultivadas nessas regiões de inverno rigoroso, tem necessidades ainda maiores de temperaturas abaixo de 7,2oC, em média acima 1000 horas. Com isso, o assunto mais discutido nos trabalhos da área é que de nada adianta, simplesmente, introduzir as variedades das principais áreas produtoras do estrangeiro e selecionadas para as condições de inverno que lhes são peculiares, pois elas não encontram boa adaptação ao clima ameno dos estados produtores brasileiros. Há inevitavelmente, a necessidade de se realizar todo um trabalho de melhoramento genético para seleção de material que consiga se desenvolver e frutificar normalmente nos climas temperados-subtropicais a tropicais, característicos de nosso país.
A seguir são relatados os principais resultados de pesquisa,
principalmente do IAC, obtidos depois de 1950 que, de certa forma,
revolucionaram o cultivo das frutíferas de clima temperado.
Importante enfatizar que, seria impossível discorrer sobre os
avanços da fruticultura de clima temperado, se não considerar
prioritariamente os relevantes trabalhos de melhoramento de
cultivares, visando adaptação plena aos climas típicos regionais.
Pessegueiro, nectarineira e ameixeira Antes de 1950, as pesquisas
com essas culturas se baseavam, em geral, na introdução de
cultivares de várias procedências, verificando-se suas
características e comportamento ecofisilógico frente ao clima de
inverno ameno dos estados do sudeste e sul brasileiro. Foi graças a
esse trabalho pioneiro, que possibilitou o cultivo dessas fruteiras
em moldes comerciais e com elevado nivel de aceitação por parte dos
fruticultores. Sem essas pesquisas, provavelmente não haveria, na
época, produções dos pêssegos nos arredores de São Paulo, a exemplo
de: ‘Suber’, ‘Jewel’ ou ‘Pingo-de-mel’ e ‘Tos China’ (introduzidos
dos Estados Unidos e Itália) e ‘Rei da Conserva’, ‘Sawabe’ e ‘Pérola
de Itaquera’ (selecionados por produtores locais), segundo Ojima et
al., (1988). Há registros que a primeira entrada oficial de
pessegueiro no país ocorreu em 1935, por meio da então Seção de
Introdução de Plantas, hoje Quarentenário IAC, sendo esses
observados e plantados em campo.
Nos primeiros anos da década de 1940, Dr.
Orlando Rigitano enfatizava, em seus relatórios anuais, fatos
econômicos e sociais bastante interessantes. Um desses relatos
mencionava que a cultura do pêssego começava a
“tomar
cada dia maior vulto no comércio especializado do ramo, angariando
adeptos em número crescente, cada vez maior, que levam ao varejo o
seu produto cuidadosamente obtido numa cultura que se empenham de
executar, de ponta a ponta, aprimoradamente, tanto quanto possível”.
Até essa época, os consumidores
nacionais estavam habituados a consumir pêssegos importados,
especialmente, da Califórnia e Argentina. Mas os altos preços
alcançados pelos fruticultores, principalmente de Itaquera e Mogi
das Cruzes, motivaram o plantio do pessegueiro em escala maior,
tornando-se negócio importante à economia do Estado de São Paulo.
Isso fez com que se reduzisse a importação de pêssegos, pois a
produção nacional aumentara consideravelmente (Instituto Agronômico,
1947). O trabalho de estudos de
coleções e viabilização de material ao cultivo comercial foi
essencial para dar origem no IAC, em 1947, ao primeiro programa
brasileiro de melhoramento genético do pessegueiro. Nas décadas de
1950 e 1960 foram obtidas cultivares que revolucionaram a
persicultura paulista, tais como: ‘Talismã’, ‘Tutu’, ‘Ouromel’,
‘Natal’, ‘Biuti’ dentre outros (Rigitano, 1964; Ojima et al. 1993).
Estes pêssegos, lançados na década de 1960, dominaram o mercado por
20 anos, sendo paulatinamente substituídos por outros mais atrativos
desenvolvidos nas décadas posteriores.
Com a
expansão da cultura, logo vieram os problemas fitossanitários. A
infestação de mosca-da-fruta, cochonilha branca, pulgão, mariposa
oriental, ferrugem, crespeira, sarna e podridão parda começou a
dificultar esse novo empreendimento frutícola. Parte dos problemas
fora resolvido com a aplicação de calda sulfocálcica a l:8, calda
bordaleza a 2%, óleo miscível a l%,
sulfato de nicotina a 0,3%; o ensacamento dos frutos, no entanto,
era imprescindível.
As pesquisas com inseticidas foram
iniciadas mais tarde, na década de 1960, pelo Instituto Biológico de
São Paulo, resolvendo os problemas como o da mosca-da-fruta. Os
principais pomares de pêssego foram implantados em Itaquera, o que
motivou a Secretaria da Agricultura Paulista a realizar, todos os
anos, a Festa do Pêssego, sempre No inicio da década de
1950, Sérgio Sachs e outros pesquisadores da então Estação
Fitotécnica de Taquari, depois Estação Experimental de Pelotas,
iniciaram o melhoramento do pêssego no Rio Grande do Sul. Segundo
relatos, desde 1940 já havia alguns cultivos de ‘Elberta’,
‘Cristal’, ‘Leader’ e ‘Abóbora’, introduzidos da Flórida, Geórgia,
Carolina do Norte e Califórnia, principalmente, da Universidade de
Rutgers. Segundo Byrne; Bacon (1999), metade de suas seleções de
pêssego dessa época, tipo consumo in natura, possuía a genética de
‘Delicioso’, ‘Precoce Rosado’ e ‘15 de Novembro’. Essas e outras
cultivares, juntamente com ‘Aldrighi’, constituíram a base do
melhoramento genético do pessegueiro das citadas estações
experimentais, hoje EMBRAPA Clima Temperado. Nas décadas de Com o passar dos anos,
outros pêssegos e nectarinas bem avermelhados foram sendo
introduzidos por pesquisadores e produtores, principalmente dos
Estados Unidos. Essas introduções logo lideraram os novos plantios
comerciais nas regiões Sudeste e Sul, marcando nova fase na cultura
de frutas de caroço. Exemplo disso são as introduções de: ‘Sunred’ e
‘Colombina’ (nectarinas) e ‘Maravilha’ e ‘Flordaprince’ (pêssegos),
extremamente atrativos e incomuns no Brasil. Com isso, os institutos
de pesquisas nacionais tiveram que repensar sua programação, para
poder continuar competindo no mercado interno com suas principais
seleções. Rapidamente, os pesquisadores formaram parcerias com
universidades norte-americanas e iniciaram os trabalhos de
cruzamentos entre os pêssegos nacionais e introduzidos. Assim, nas
décadas de 1960 e 1970, os acessos das Universidades da Flórida e da
Califórnia dominaram os cruzamentos nessa nova fase dos programas de
melhoramento do IAC e da EMBRAPA. Graças a essas ações, logo se
desenvolveram seleções de pêssego e nectarina de pele mais
avermelhadas e com menor ciclo de maturação dos frutos, voltando a
competir em condições de igualdade ou até de superioridade em
relação às cultivares estrangeiras. No IAC foram desenvolvidos, na
década de 1980, os pêssegos da série Aurora, Doçura, Dourado, Jóia e
Ouromel, que reinaram absolutos na persicultura paulista até meados
da década de 1990. Dentre as nectarinas, as de maior destaque foram:
‘Rosalina’, ‘Josefina’ e ‘Centenária’ (Barbosa et al., 1997), porém
menos plantadas que as cultivares da Flórida. Essas seleções do IAC
apresentam alta produtividade e adaptação climática e boa
precocidade de maturação.
Seus frutos são, na maioria, de
coloração avermelhada e de sabor doce-acidulado bem agradável. Em
termos de pêssego de curto ciclo de maturação, o IAC desenvolveu na
década de 1980 seleções das
mais precoces já obtidas em programas de
melhoramento genético nacional. Com o indispensável auxílio da
cultura in vitro de embriões (Barbosa et al., 1985), obtiveram-se
inúmeras plântulas da linhagem IAC 180 (371-2 = F2
‘Tutu’ x ‘Rubro-sol’), em
|Jundiaí, de onde se selecionaram o
pêssego
‘Tropical’, de polpa amarela e pele com até 95% vermelho-escuro.
Essa cultivar amadurece seus frutos em tempo recorde, entre 70 e 80
dias após a floração, durante fins de agosto a inicio de setembro em
regiões mais quentes do interior paulista (Barbosa et al. 1990). Cultivares importantes, dessa nova etapa do melhoramento genético de frutas de caroço no país, foram divulgadas, também, pela EMBRAPA Clima Temperado. Dentre essas se destacam: ‘Chimarrita’, ‘Chiripá’, ‘Chula’, ‘Eldorado’, ‘Jubileu', ‘Maciel’, ‘Leonense’, ‘Planalto’, ‘Turmalina‘ e Vanguarda’ (Raseira et al., 2008; EMBRAPA, 2011). Suas principais características são: alta produtividade das plantas e beleza e sabor bem agradável dos frutos, predominando o doce-acidulado. Chama atenção a qualidade das cultivares para conserva, cuja película é amarelo-alaranjada pouco avermelhada e com polpa bem amarela e firme. As compotas, das seleções tipo indústria, apresentam sabor ácido agradável, textura macia, cor atraente e com boa uniformidade, sem escurecimento (oxidação). Algumas dessas seleções apresentam moderada a boa resistência à infestação de Xanthomonas arboricola pv. Pruni. Interessante citar que, devido à relativa baixa exigência em frio desses pêssegos da EMBRAPA, vários deles penetraram fortemente, principalmente, em Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais, diversificando ainda mais os tipos cultivados nestes estados. Os pêssegos ‘Okinawa’, introduzido da Flórida e resistente a nematóides, e ‘Capdeboscq’ (seleção local de Pelotas, RS), se tornaram, ao longo das décadas, os principais porta-enxertos para frutas de caroço. Ambas cultivares apresentam alta produtividade de sementes e considerável rusticidade no manejo das plântulas e das mudas enxertadas. Aos poucos foram sendo introduzidos, na cultura, uma série de porta-enxertos diferenciados, visando maior densidade de plantio e tolerância a pragas, mas que ainda precisam ser melhor pesquisados para validação definitiva de sua contribuição. Os objetivos propostos, nos
dois principais programas de melhoramento genético do país, vêm
sendo gradativamente atingidos, acumulando e combinando os genes
favoráveis nos indivíduos das diferentes gerações. No IAC, por
exemplo, os pessegueiros e nectarineiras, selecionados e promovidos
ao longo dos anos, apresentam grande variabilidade em tipos de
planta, fruto e época de maturação. Como exemplos fenotípicos, se
destacam as cultivares de pêssegos esverdeados como Talismã, Nectar,
Cristal; de pele rosada (Jóia-1 e 2) ou vermelha (Centenário); de
polpa amarela (Petisco-2, Canário, Dourado-1) ou branca (Natal,
Delicioso Precoce, Jóia-4); textura firme (Aurora-1) ou macia
(Catita, Tutu, Jóia-3); de caroço preso (Colibri, Brasão) ou solto
(Dourado-2, Jóia-5); de sabor bem doce (Supermel, Ouromel-2) ou doce
mais acidulado (Petisco, Arlequim); de consumo industrializado
(Régis, Real, Biuti); de maturação bem precoce (Tropical,
Tropical-2), mediana (Doçura-2, Aurora-2) ou tardia (Bolão, Momo);
e, de frutos bem grandes (Douradão), segundo Barbosa et al. (1997).
Constatou-se que há cerca de 55 cultivares de pêssegos e nectarinas
em cultivo no Brasil, sendo 20 deles cultivados em maior escala
comercial (Barbosa et al., 2003; Mayer e Antunes, 2010).
Importante registrar a relevante
contribuição da pesquisa nacional, nos programas de melhoramento do
pessegueiro e nectarineira.
Mesmo
com a excelência das cultivares estrangeiras, mais de 70% dos
pêssegos e nectarinas plantados no Brasil são oriundas de programas
nacionais, visando na sua essência adaptação plenas aos climas
regionais. Com a maior restrição de recursos públicos para pesquisa, após os anos de 1990, algumas instituições de pesquisa tiveram que reduzir o volume de trabalho e readequar seus projetos frente a essa nova realidade. Com isso, se reduziu a quantidade de campos experimentais e, consequentemente, o aparecimento de resultados inovadores à fruticultura de clima temperada. Hoje, a EMBRAPA Clima Temperado é, com certeza, o maior centro de pesquisa em frutas de caroço do país e do mundo, principalmente quanto ao desenvolvimento de pêssego tipo conserva. Essa unidade, localizada em Pelotas, possui um banco ativo de germoplasma com mais de 900 acessos, em que são mantidos genótipos de baixa exigência em frio hibernal e de boa resistência á Monilinia fructicola, causadora da bacteriose, principal doença do pessegueiro (Raseira et. al. 1988). Mesmo com a crise de recursos financeiros e humanos, de unidades paulistas de pesquisa, novos pomares ainda deverão ser estabelecidos com as cultivares do IAC, de muito baixa exigência em frio. Com isso, a fruticultura de clima temperado continuará avançando para regiões cada vez mais quentes do Estado de São Paulo (Chagas et al., 2009) e circunvizinhança, inclusive norte de Minas Gerais, Bahia, Goiás e Espírito Santo. Mesmo havendo grande
diversidade de tipos, há sempre muita procura por novas opções
varietais, especialmente para antecipação de safra e melhoria da
qualidade do produto final.
Em fins da década de 1990 e inicio dos
anos 2000, se verificou nova demanda por cultivares de frutíferas de
clima temperado mais diferenciadas, sendo que essas deveriam
apresentar frutos bem precoces, graúdos e atraentes e de adequada
conservação pós-colheita. Havia e há grande interesse por cultivares
cujas plantas sejam mais compactas, bem adaptadas a diferentes
climas regionais e, se possível, tolerantes às pragas e doenças.
Ressalte-se que, quanto mais precoces são as safras, menores são os
custos de produção e a competição pelas frutas de época,
provenientes de outras regiões produtoras; daí o interesse contínuo
e imediatista do mercado por cultivares mais vantajosas. Em resposta
a essa demanda, o IAC e a EMBRAPA lançaram na primeira década dos
anos 2000 novas cultivares de pêssego e nectarina que, em parte,
atenderam os anseios do mercado.
O pêssego ‘Douradão’, por exemplo, lançado pelo IAC e testado em
várias regiões do Estado de São Paulo, encontrou inicialmente
melhores condições de desenvolvimento em locais cujas latitudes
estavam acima de 23o00´S
(Barbosa et al., 2000). Essa cultivar, mesmo antes de seu lançamento
oficial, já era extensamente cultivada no centro-sul do
Estado. Devido ao seu maior tamanho (massa média de
Nessa mesma década a EMBRAPA Clima
Temperado, por sua vez, lançou com destaque o pêssego ‘BRS Kampai’,
de baixa exigência em frio hibernal e de polpa branca e bem
adocicada, tipo esse bem apreciado nos estados de São Paulo e Paraná
(Raseira et al. 2010). A ‘BRS Kampai’, que significa brinde em
japonês, é
a
primeira cultivar de pessegueiro a receber o certificado de proteção
no Brasil, junto ao
Registro Nacional de
Cultivar, do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Outros
recentes lançamentos de pêssegos como: ‘Rubimel’ e ‘BRS
Fascínio’
para consumo in natura’ e ‘Bonão’,
‘BRS Libra’ e ‘BRS Âmbar’, para consumo industrializado, também, vem
sendo divulgados com ênfase nas diversas regiões produtoras do Sul e
Sudeste. Outras instituições de pesquisa e universidades, também, pesquisam o melhoramento genético do pessegueiro e nectarineira, das quais se destacam: o Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Difusão de Tecnologia de Santa Catarina (EPAGRI), a Universidade Federal de Viçosa (UFV) e a Universidade Estadual Paulista (UNESP - Jaboticabal). As cultivares de pêssego Ouro e de nectarina Bruna foram lançadas pelo IAPAR, sendo que essa última resultou de trabalho em cooperação com a Embrapa Clima Temperado. A cultivar Della Nona foi lançada pela EPAGRI, também, em cooperação com a EMBRAPA Clima Temperado. Na década de
A história do cultivo da ameixeira no Brasil não difere muito das outras frutíferas de clima temperado. Durante a primeira metade do século XX, aos poucos as ameixeiras foram sendo trazidas dos principais centros produtores mundiais e plantadas em várias regiões de clima ameno do Sul e Sudeste. As cultivares tradicionais de clima frio, logicamente, não se prosperavam nas condições climáticas locais, pois suas plantas eram deficientes na brotação das gemas após o inverno. Algumas introduções, porém, conseguiam se desenvolver e frutificar razoavelmente, a exemplo de ‘Kelsey’, pertencente a espécie Prunus salicina Lindl. Ao que parece, a ameixa ‘Kelsey’, introduzida nos Estados Unidos há mais de 100 anos, foi o principal paternal das ameixas de melhor adaptação a regiões de pouco frio hibernal, como ‘Santa Rosa’ e ‘Satsuma’. No Estado de São Paulo, fruticultores dos arredores da capital e interior propagaram descendentes de ‘Kelsey’ e ‘Satsuma’ e selecionaram algumas plantas produtivas, que constituíram a base do cultivo da ameixa no território paulista. Aparentemente, as ameixas ‘Roxa de Itaquera’ e ‘Kelsey Paulista’ são descendentes dessas duas introduções, que surgiram em Itaquera e em Limeira (SP) por volta de 1925 e 1940 respectivamente (Rigitano e Ojima, 1973; Castro et al. 2008; Ojima, et al., 1992). Entre as diversas
cultivares, inicialmente pesquisadas nas Estações Experimentais do
IAC, apenas as duas acima referidas tinham-se destacada pela
adaptabilidade, mostrando condições de ser recomendadas para
exploração comercial Como resultado inicial
desse projeto, selecionou-se já em Na região Sul, segundo Castro et al. (2008), também, ocorreram várias tentativas de introdução de ameixas desde o inicio do século XX, por imigrantes europeus. No entanto foram os franceses, vindos de Marrocos, que trouxeram as principais cultivares para Fraiburgo (SC), na década de 1960. Posteriormente, algumas coleções foram instaladas em Fraiburgo e São Joaquim (SC) e em Vacaria e Pelotas (RS). Devido à alta exigência em frio, calculada em mais de 700 horas com temperatura inferior a 7,2ºC, somente as coleções de São Joaquim e Vacaria apresentaram algumas cultivares promissoras. Do material pesquisado, somente ‘D’Agen’ e ‘Stanley’ (ambas P. domestica), mostraram possibilidades de exploração na região de Cima da Serra Gaúcha e nos altiplanos do Planalto das Araucárias de Santa Catarina. A cultivar ‘Santa Rosa’, lançada em 1906 nos Estados Unidos chegou a representar cerca 90% da área plantada com ameixeiras nos Estados do Sul do Brasil (Nakasu e Raseira, 2002). Todos os programas de
melhoramento genético da ameixeira no Brasil utilizam em maior
escala a espécie
P. salicina
Lindl., por ser a que mais se adapta aos climas locais. Ao longo dos
anos, por meio de hibridações e polinizações abertas, foram
desenvolvidas cerca de 20 cultivares ou seleções, com boa adaptação
a diversas regiões de clima temperado ameno a subtropical. Afora
‘Carmesim’, o IAC lançou entre as décadas de 1960 e 1990 as
seguintes seleções: ‘Rosa Paulista’, ‘Grancuore’, ‘Golden Talismã’,
‘Gema-de-ouro’, ‘Rosa Mineira’, ‘Januária’, ‘Centenária’ e ‘Kelsey- A Embrapa Clima Temperado
mantém, desde 1953, o seu programa de melhoramento genético de
ameixeira, do qual selecionou a série Pluma Segundo Eidam et al. (2012), os maiores estados produtores de ameixas são: Rio Grande do Sul, com produção anual estimada de 12.200 toneladas, seguido por Santa Catarina, com 11.000 toneladas, Paraná com 7.000 toneladas, São Paulo com 6.000 toneladas e Minas Gerais com 1.600 toneladas. Esses autores relatam que sete ameixas são as mais cultivadas nestes estados: ‘Gulfblaze’, ‘Irati’, ‘Reubennel’, ‘Harry Pickstone’, ‘Polli Rosa’, ‘Fortune’ e ‘Letícia’. Mesmo com o esforço de décadas, dos pesquisadores envolvidos nos programas nacionais de melhoramento, verifica-se carência de cultivares nacionais como opção vantajosa ao plantio comercial, principalmente para regiões com menor número de horas de frio hibernal. Em levantamento recente, sobre produção de mudas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo, se detectou o envolvimento de 27 cultivares (Mayer e Antunes, 2010). Dessas, cerca de 90% são ameixeiras de origem estrangeira. Ultimamente, com a expansão do cultivo para outras regiões nunca antes cogitadas, a exemplo do semiárido brasileiro, vem ocorrendo demanda por cultivares e por manejos diferenciados (Lopes e Oliveira, 2010). Em locais de clima tropical de altitude, como em Mucugê, na Bahia (13º00’S, 41º22’O e altitude 980m), há cultivos de seleções nacionais e estrangeiras, em que as ameixeiras conseguem se desenvolver e produzir satisfatoriamente (Barbosa, 2006).
Com 291 mil
indivíduos plantados em Macieira, pereira e marmeleiro Cultivos
da macieira e da pereira são mais restritos à região Sul do Brasil,
onde as plantas encontram melhores condições climáticas para seu
desenvolvimento vegetativo e reprodutivo. Regiões como as de
Fraiburgo e São Joaquim (SC) e Vacaria (RS) respondem pela produção
da grande maioria das maçãs brasileiras. Há registros que a primeira
produção comercial de
maçãs
ocorreu na vizinhança de Campinas (SP), na década de 1920. As mudas
da macieira ‘Ohio Beauty’ (ou ‘Valinhense’), já eram produzidas em
Valinhos (SP) e vendidas para toda região. Isso foi decisivo para
que, nas décadas seguintes, houvesse centenas de milhares de
macieiras sendo cultivadas comercialmente no Estado de São Paulo.
Esses plantios de macieiras podem ter sido iniciados por influência
dos trabalhos realizados no IAC, principalmente por João Hermann,
que orientou as atividades com as fruteiras de clima temperado nessa
época. É dele a famosa publicação de 1908 intitulada: “Sobre o
tratamento das árvores frutíferas”. Esse mesmo pesquisador foi o
responsável, a partir de 1925, pela implantação da principal coleção
de macieira e outras frutíferas na antiga Estação Experimental de
São Roque, do IAC (hoje UPD São Roque - Pólo Regional Sede - da
Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios - APTA). Nas décadas
de 1940 e 1950, as coleções do IAC somavam cerca de 90 acessos, cujo
objetivo principal era a verificação regional da adaptação climática
das plantas. Em fins da década de 1950, pesquisadores do IAC, depois
de constatarem o comportamento pouco satisfatório da grande maioria
das maçãs das coleções de Campinas, Monte Alegre do Sul, Jundiaí e
São Roque, iniciaram os trabalhos de melhoramento, objetivando novas
seleções mais adaptadas ao clima de São Paulo. Assim sendo,
efetuaram cruzamentos de ‘Valinhense’ com ‘Rome Beauty’, ‘Golden
Delicious’, ‘Glengyle Red’, ‘Delicious’ (ou ‘Red Delicious’), ‘King
David’, ‘Jonathan’ e ‘Primasia’, que vinham apresentando
comportamento promissor. Na década de 1960 selecionaram-se as
primeiras cultivares paulistas de maçãs: ‘Rainha’, ‘Culinária’, ‘Dulcina’,
‘Paulista’, ‘Delícia’ e ‘Bonita’, que tiveram penetração em culturas
comerciais em São Paulo, porém em escala limitada (Rigitano et al.
1975; Ojima e
Campo-Dall’Orto, 1980). A 'Rainha', a
mais importante seleção do IAC, apresentou em cultivo comercial no
Vale do Paranapanema padrão de qualidade similar ao das melhores
maçãs estrangeiras, segundo Rigitano et al. (1984). Depois disso,
‘Rainha’ foi utilizada quase que apenas como cultivar polinizante
para ‘Gala’, quando cultivada em regiões subtropicais. Após anos de
trabalhos de hibridação e seleção contínuos, o IAC ainda divulgou na
década de 1980 outras maçãs, como: ‘Centenária’, ‘Galícia’,
‘Marquesa’ e ‘Soberana’(Campo-Dall’Orto et. al. 1987). Mesmo
apresentando característica de baixa exigência em frio, ciclo de
maturação dos frutos bem precoces e razoável qualidade do produto
final, essas seleções não tiveram a desejada penetração na cultura.
Ainda, na década de 1980, foi verificado o comportamento de 22
seleções e novos acessos de germoplasma IAC, em Capão Bonito, região
fria do Sudoeste paulista. Dentre elas se destacaram as maçãs: ‘Michal’,
‘Anna’, ‘EinShemer’, ‘Mutsu’, e ‘Red Home’ (introduzidas), além de ‘Dulcina’,
Rainha’ e ‘Culinária’. Essas cultivares foram recomendadas para
servirem de opção às maçãs ‘Valinhense’ e Brasil (Bruckner), esta
última selecionada na década de 1940 por produtor alemão da região
de Campinas (SP). As tradicionais maçãs cultivadas na região Sul,
como ‘Gala’ e ‘Fuji’ tiveram comportamento vegetativo irregular e
baixas produções de frutos (Campo-Dall’Orto et al. 1987). Após essa
época, dada à competição das maçãs produzidas na região Sul e a
outros fatores, a maioria dos produtores paulistas desistiu dessa
cultura, iniciando empreendimentos com outras frutíferas.
O censo paulista LUPA-SP, da década de 1990,
revelou que havia 391 mil macieiras sendo cultivadas em Nos estados do Sul, a cultura da maçã começou a ganhar impulso após 1960. Em Fraiburgo (SC), por exemplo, com condições climáticas favoráveis, as macieiras foram mais facilmente cultivadas. Vários emigrantes europeus e seus descendentes foram os principais responsáveis pela implantação de pomares no sul do Brasil. Esses pomicultores utilizaram ao longo dos anos as maçãs dos grupos ‘Gala’ e ‘Fuji’, que aos poucos chegaram a representar 90% da produção brasileira nos primeiros anos da década de 2000. Em pomares menores se distribuíam as cultivares: ‘Eva’, ‘Golden Delicious’, ‘Brasil’, ‘Anna’, ‘Condessa’, ‘Catarina’ e ‘Granny Smith’. A maçã ‘Gala’ (original) teve a tendência de, aos poucos, ser substituída por clones de coloração mais vermelha dos frutos, como: ‘Royal Gala’, ‘Imperial Gala’ e ‘Galaxy’ (Petri at al., 2011; Sato e Roberto, 2009). Estes autores, assim como Hauagge et al., (2008) relataram pormenorizadamente os trabalhos realizados pelas unidades sulinas de pesquisa (EMBRAPA, EPAGRI e IAPAR) e ensino, principalmente do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, bem como as cultivares desenvolvidas pelas mesmas durante as últimas quatro décadas. A maçã ‘Eva’, a mais difundida nos cultivos do Sul e Sudeste brasileiro, inclusive na Bahia, possui larga adaptação climática, podendo ser cultivada em locais onde há poucas horas de frio abaixo abaixo de 7,2º. Essa cultivar é extremamente produtiva, sendo sua safra colhida precocemente durante dezembro e inicio de janeiro. Ao longo de mais de 50 anos de melhoramento genético da macieira, os institutos de pesquisa chegaram a desenvolver cerca de 30 cultivares (Hauagge e Brukner, 2002; Hauagge et al., 2008), as quais apresentam características bioagronômicas bastante importantes tanto à cultura quanto ao prosseguimento dos trabalhos nacionais de melhoramento genético. Graças às ações de instituições de pesquisa e extensão, de empresas produtoras e de associações do setor, a produção brasileira de maçã se tornou auto-suficiente, sendo até exportada para outros países. Haja vista o espetacular aumento de 6000% na produção de maçãs brasileiras, nas últimas três décadas (FINEP, 2012). A história do desenvolvimento da cultura da pereira, em região subtropical brasileira, é bem similar a da macieira. Numa primeira fase ocorreram várias introduções de peras, de diversos tipos, desde o inicio do século XX, sendo as mesmas observadas por décadas e distribuídas a fruticultores regionais. Numa segunda fase se iniciou o melhoramento genético, em fins da década de 1950, objetivando a seleção de novos tipos mais adaptados ao clima regional. Nessa época a cultura da pereira, talvez, tenha alcançado o seu auge nas regiões produtoras do Estado de São Paulo, principalmente com as cultivares: ‘D’água’ (ou Francesa) e Kieffer’ (ou Parda). O IAC, também, de forma pioneira iniciou os trabalhos de cruzamento entre os melhores acessos das coleções existentes nas estações experimentais de Campinas, Monte Alegre do Sul, Jundiaí e São Roque. O melhoramento teve por base a pêra ‘Packham’s Triumph’, em cruzamentos controlados com ‘Hood’, ‘Kieffer’, ‘Garber’, ‘Madame Sieboldt’, ‘Smith’, ‘Grazzine nº2’, ‘Bela Aliança’ e ‘Marguerite Marillat’. O primeiro lote de seleção constituído de 833 plântulas de pêra foi plantado, em 1960, na Estação Experimental de Monte Alegre do Sul. Dele resultou as primeiras cultivares lançadas pelo IAC, visando atender os fruticultores paulistas: ‘Seleta’, ‘Triunfo’ e ‘Tenra’. Dando continuidade aos trabalhos, esse mesmo programa desenvolveu na década de 1980, as peras ‘Primorosa’ e ‘Centenária’, que apresentaram perspectivas bastante promissoras, tendo em vista a fina qualidade dos frutos e o bom comportamento geral das plantas quando enxertadas sobre marmeleiro (Ojima et al. 1988). Nessa época, ainda predominavam nos cultivos as peras rústicas, como: ‘D’água’, ‘Schmidt’ (Smith) e ‘Kieffer’, sendo as cultivares ‘Seleta’ e ‘Triunfo’ paulatinamente adotadas em novos plantios, principalmente em pomares compactos e sob porta-enxertos ananicantes.
Nos estados
do Sul, encontram-se plantios de peras européias (Pyrus
communis) e asiáticas (P.
pyrifolia e P.
ussurienses) de alta qualidade, como ‘Bartlett’, ‘P. Triumph’,
‘Abate Fatel’, ‘Clapp Favorita’, ‘Rocha’, ‘Houssui’, ‘Koussui’, ‘Nijisseik’,
‘Ya Li’
e
outras, que requerem acima de 700 horas de frio hibernais (Faoro e
Nakasu, 2002; Nakasu et et., 2008). Segundo estes autores, enquanto
novas cultivares mais competitivas não forem criadas, os produtores
terão que optar, por hora, peras existentes no mercado. Nessa linha
de pesquisa, programas de melhoramento da pereira vêm sendo
executados nas últimas décadas na EMBRAPA Clima Temperado, EPAGRI e
IAPAR, com a apresentação de novas seleções como a ‘Cascatense’ (Donadio,
2000). No Estado de São Paulo, nas
décadas de 1980 e 1990, as maiores concentrações de pereira eram do
tipo asiático, principalmente nas regiões de Presidente Prudente e
Sorocaba, onde se cultivavam mais de 50 mil plantas de ‘Okusankichi’,
‘Atago’, ‘Koussui’, ‘Houssui’, e ‘Shinko’ (Barbosa et al., 2003).
Dentre várias cultivares experimentadas, somente as citadas acima
correspondiam às expectativas dos produtores. Mesmo apresentando
desenvolvimento vegetativo e reprodutivo apenas razoável, tais
cultivares constituíam a base da cultura da pereira asiática em
municípios paulistas. Havia, portanto, demanda por outras opções
varietais que apresentassem características complementares,
notadamente maior qualidade de fruto e alta adaptação ao clima
subtropical-tropical nas regiões produtoras. Assim sendo, novas
pesquisas foram realizadas no IAC após a década de 1980, visando
estudar e melhorar cultivares e seleções de pereira asiática e seus
híbridos interespecíficos. No início da década de 1990, foram
iniciados os primeiros cruzamentos envolvendo as pereiras asiáticas
citadas acima, além de outras introduzidas da EPAGRI – E. E. de
São
Joaquim. A pêra D’água foi a única polinizante utilizada
devido, principalmente, às suas características de rusticidade e de
elevada adaptação ao clima subtropical. Os híbridos descendentes,
plantados em Pindorama, Monte Alegre do Sul de Guapiara,
apresentaram características de fruto e planta bem diversificadas
(Barbosa et. al. 2007). As seleções mais promissoras, cerca de 20,
foram cultivadas em propriedades de fruticultores para definição de
material apto ao cultivo comercial. Dentre essas seleções, as peras
Alegria (consumo in natura) e Limeira (consumo industrializado)
foram as que as tiveram maior repercussão e aceitação nas regiões
testadas. Nessa
época, as experimentações regionais do IAC, também, mostravam
adequado comportamento de algumas seleções de pêra, remanescentes da
década de 1960, as quais foram divulgadas ao meio produtivo. São
elas: ‘Culinária’ e ‘Princesinha’, sendo esta última cultivada
experimentalmente com sucesso em
área irrigada do
Submédio do Vale
do São Francisco (Chagas et al. 2007; EMBRAPA, 2008).
Quando se
realizou o projeto LUPA-SP, a pereira representava a sétima
frutífera de clima temperado mais cultivada no território paulista.
Com 164 mil plantas cultivadas em
Na década de
1990, por meio do projeto LUPA-SP, se verificou que o marmeleiro com
somente 1.140 plantas era cultivado em
Caquizeiro, nespereira e figueira O
caqui
foi introduzido no Estado de São Paulo pelo fruticultor Pereira
Barreto. Segundo Rigitano (1956), poucas são as frutiferas de clima
temperado que se adaptaram tão bem às condições climáticas paulistas
como o caquizeiro. É dele a frase:
Logo
depois da chegada das primeiras introduções de caquis em São Paulo,
nos fins do século XIX, a sua cultura aqui se desenvolveu com
facilidade, demonstrando, bem cedo, que havia encontrado ambiente
dos mais propícios à sua expansão.
Embora o caquizeiro já tivesse dispersado para vários estados do
Sudeste e Sul, devido à presença da colônia japonesa, a cultura
permaneceu, por décadas, concentrada nos arredores da capital
paulista, principalmente em Moji das Cruzes (SP), o maior centro
produtor de todos os tempos, com cerca de 50% da produção
brasileira. Depois da década de
Após muitos
anos de observação regional, quanto ao comportamento das cultivares
existentes nas coleções, tiveram início, em 1950, os cruzamentos
controlados visando
obtenção de novos tipos de
caqui, selecionados quanto à: produtividade, qualidade dos frutos e
adaptação às condições climáticas do Estado. Os melhores acessos
produziam flores hermafroditas, com pólen fértil, de modo que
puderam ser utilizados reciprocamente nos cruzamentos, tanto como
progenitores masculinos como femininos. As primeiras seleções de
caqui do IAC, lançadas como resultados deste programa foram: ‘Pomelo’, ‘Rubi’, ‘Kaoru’, ‘Regina’,
‘Coral’ e ‘IAC A
nespereira apresentou alta adaptação
no Sudeste e Sul do Brasil. Embora sua origem seja de região fria,
suas folhas não caem no inverno e permanecem o ano todo na planta.
Assim como o caquizeiro, Moji das Cruzes (SP) sempre foi o maior
produtor de nêsperas do Brasil. Após muitos anos de observação dos
acessos, nas coleções de trabalho, decidiu-se iniciar um programa de
melhoramento genético buscando ampliar as alternativas ao cultivo
comercial. Até então, as principais cultivares do mercado eram ‘Mizuho’
e ‘Precoce de Itaquera’. Mesmo apresentado boas características ‘Early
Red’, ‘Mogui’, ‘Togoshi’ e ‘Tanaka’ não ganharam espaço importante
na cultura. De
A
figueira se difundiu por todas as
regiões tropicais, subtropicais e temperadas das Américas e, segundo
consta, haviam figueiras no Perú e na Flórida já em 1526 e 1575
respectivamente. Segundo Rigitano (1981), “não
seria fora de propósito assegurar-se que a introdução em São Paulo
se tenha verificado ao mesmo tempo que a da videira, marmeleiro e
outras espécies, as quais foram trazidas pelos participantes da
primeira expedição colonizadora de Martim Afonso de Souza, no ano de
A figueira, a exemplo de outras frutíferas de clima temperado, possuía no IAC, coleções com diversos acessos, principalmente em São Roque (SP). Das várias introduções ocorridas ao longo do século XX, somente a ‘Brown Turkey’ ou ‘Roxo de Valinhos’ apresentou elevado vigor, rusticidade e produtividade. Outros figos da coleção, como: ‘Kadotta’ (ou ‘Figo Branco’), ‘Uruguay’ e ‘Celeste’, mesmo tendo apresentado razoável comportamento vegetativo não foram propagados comercialmente. Nas regiões produtoras brasileiras, ‘Roxo de Valinhos’ constituiu-se no único cultivar utilizado comercialmente. Esse clone, já muito envelhecido, apresentou sérios problemas fitossanitários, em Valinhos e em outras regiões paulistas, como: a ferrugem (Phakopsora nishidiana) e a seca (Ceratocystes frimbriata). Após o ataque do besouro Phloetribus picipennis Eggers às figueiras, ocorre à transmissão do fungo Ceratocystes frimbriata, que é a provável causa dos sintomas de estresse verificado na espécie. Esse e outros fatores foram responsáveis pela diminuição dos plantios nessa região, migrando-se para outros estados brasileiros.
Na década de
1990, o Projeto LUPA-SP revelava que a figueira era a terceira
frutífera, em número de plantas, mais cultivada no Estado de São
Paulo. Com 835 mil plantas, em área de
Outras
frutíferas e nozes Muitas outras frutíferas de clima temperado foram introduzidas no passado, porém poucas delas, por enquanto, obtiveram algum êxito no agronegócio brasileiro. No IAC, há relatos pormenorizados sobre a introdução e o comportamento agronômico de cereja, abricó, umê, pistache, azeitona, framboeza, amora-preta, kiwi, castanha, avelã, pecã e macadâmia. Dentre essas, a
nogueira-macadâmia foi a que obteve
maior penetração na agricultura, devido às pesquisas de introdução,
comportamento regional, agroindústria, economia e, principalmente,
melhoramento genético de cultivares.
O primeiro relato de plantio desta espécie no Brasil data de 1931,
com a introdução de algumas plantas provenientes de viveiros
americanos na Fazenda Cintra, em Limeira-SP (Silva e
Cantuarias-Avilés, 2010). No IAC, embora
existissem desde 1948, algumas plantas em observação, foi a partir
de 1955 que os trabalhos experimentais com essa cultura puderam ser
intensificados no IAC. Com a introdução de
Os trabalhos
de melhoramento e seleção do IAC permitiram o lançamento de cerca de
20 novas cultivares e seleções bem adaptadas, sendo que as
denominações ‘Keaudo’, ‘Keauré’, ‘Keaumi’,
‘Keaufa’ e ‘Waiasol’ se referem ao nome de seus paternais,
acrescidos das notas musicais. Essas
e outras cultivares abriram perspectivas para a produção desse tipo
de noz, em larga escala, em São Paulo e em outras regiões do País.
Na década de 1970, já se
dizia que essa nogueira estava fadada a ocupar posição de realce na
agricultura paulista e nacional. Os trabalhos científicos indicavam
algumas cultivares mais promissores, como:
Keaudo, Keaumi, IAC 4-12B e
Campinas-B, selecionadas pela boa produtividade e qualidade superior
das nozes (Tombolato et al. 1986; Ojima et al., 2002).
Na década de 1990, o projeto LUPA-SP registrava
que a
macadâmia constituía na principal nogueira de clima
temperado-subtropical cultivada no Estado de São Paulo. Em área de
Videira e outras frutíferas de clima temperado
– O histórico da videira e das
demais frutíferas pode ser facilmente encontrado na internet, em
livros e em artigos de revistas científicas.
Manejo cultural.
Concomitante às pesquisas de melhoramento,
vários outros temas foram sendo desenvolvidos ao longo dos anos
visando melhorar o manejo das plantas e a produtividade de frutos,
com qualidade ambiental. Para atingir esses objetivos, contribuíram,
em destaque, as pesquisas relacionadas à propagação seminífera e
vegetativa, espaçamento, poda, raleio, nutrição, fitossanidade,
ecofisiologia e pós-colheita. Existem muito exemplos desse tipo de
pesquisas na literatura nacional, que muito colaboraram para a atual
situação de destaque da fruticultura de clima temperado no Brasil.
Exemplos desses relevantes trabalhos, realizados ao longo das
décadas, podem ser encontrados na internet, em revistas técnicas e
científicas, livros e em boletins bibliográficos nacionais da área
(Castro et al. 1989; Neves et al, 1991; Pommer e Barbosa, 1994;
Fachinello et al., 1995; Barbosa et al. 1999; Donadio, 2000, Pio,
2008).
Conclusões 1. Em quase 200 anos de história se observa um
esforço extraordinário para se pesquisar a adaptação, a seleção de
material produtivo e o desenvolvimento adequado das fruteiras de
clima temperado nas condições de clima e solo de diversas regiões
brasileiras. 2. Mesmo com os notáveis esforços realizados nos
séculos XIX e XX, se verifica que os maiores avanços nas pesquisas
frutícolas ocorreram nos últimos 60 anos. O intercâmbio de novo
material genético e de conhecimentos científicos foi um dos
principais responsáveis por uma fruticultura temperada moderna e
mais competitiva, em todos os setores do agronegócio nacional. 3. Neste século XXI, novos e importantes
desafios deverão ser enfrentados pelos pesquisadores da ativa e por
aqueles outros que ingressarão na área. Com certeza, as dificuldades
para obtenção de resultados, de real valia à fruticultura, serão
cada vez maiores, haja vista a excelência da contribuição científica
da velha guarda de pesquisadores. A nova geração de profissionais
deverá enfrentar grandes disputas por verbas para pesquisa e maior
cobrança por resultados ambientalmente sustentáveis.
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Wilson Barbosa Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte Dados para citação bibliográfica(ABNT): BARBOSA W., PIO R.; História da fruticultura de clima temperado no Brasil, com ênfase no melhoramento genético. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2013_1/brasil/index.htm>. Acesso em: Publicado no Infobibos em 23/04/2013 |